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Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço 
em que de penetrar-te me senti perdido 
no ter-te para sempre

Quanto de ter-te me possui em tudo 
o que eu deseje ou veja não pensando em ti 
no abraço a que me entrego

Quanto de entrega é como um rosto aberto, 
sem olhos e sem boca, só expressão dorida 
de quem é como a morte

Quanto de morte recebi de ti, 
na pura perda de possuir-te em vão 
de amor que nos traiu

Quanta traição existe em possuir-se a gente 
sem conhecer que o corpo não conhece  
mais que o sentir-se noutro

Quanto sentir-te e me sentires não foi 
senão o encontro eterno que nenhuma imagem 
jamais separará

Quanto de separados viveremos noutros 
esse momento que nos mata para 
quem não nos seja e só

Quanto de solidão é este estar-se em tudo 
como na auséncia indestrutível que 
nos faz ser um no outro

Quanto de ser-se ou se não ser o outro 
é para sempre a única certeza 
que nos confina em vida

Quanto de vida consumimos pura 
no horror e na miséria de, possuindo, sermos 
a terra que outros pisam

Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti, 
recebo gratamente como se recebe não a morte ou a vida, 
mas a descoberta de nada haver onde um de nós não esteja.  

Jorge de Sena 
in Visão Perpétua 
Agosto 1967

1 pistas:

dream on girl disse...

Mereces tudo o que desejas!!
Um beijinho enorme com muitas saudades tuas... Adoro-te