Um Mundo Interactivo

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“The indispensible first step to getting the things you want out of life is this: decide what you want”
– Ben Stein


Correr sem saber porquê, com quem ou de que forma parece-me um esforço desnecessário que deixa de fazer sentido, extremamente desgastante sem nenhum objectivo concreto. Admito que por vezes seja agradável sentir a vida levar-nos, lembro-me de brincar às escuras e adorar, a sensação de desconhecido, de estar exposta a não sei bem o quê (eu sabia que era o quarto dos meus pais, mas...), de dar um passo devagar e pensar seja o que deus quiser... Mas para mim o momento mais delicioso era o encontro com o outro, tirar o lenço e rir, abraça-lo de alívio. A delicia está quando tocamos e conseguimos identificar um corpo familiar que respira, uma semelhança, um repouso. A sensação é de identificação (do outro, de nós, de dois), satisfação, união e tranquilidade.

Talvez fosse mais fácil nascermos com um mapa, ou um puzzle com números que vamos interligando para encontrar ou desenhar o caminho certo. Mas como diria um amigo, nas dificuldades é que encontramos a nossa força. Mas a dificuldade não reside só nas tomadas de decisão, parece-me, reside também no impedimento cada vez maior de real interactividade com as coisas, com as pessoas, com as ideias. Muitas vezes me pergunto onde está a Interactividade crescente de que todos falam. Produtos fictícios, ideias fictícias e até cada vez mais pessoas ficticias. Eu teria a ousadia de dizer mesmo que o Mundo está em Desinteractividade. Cada vez mais individualista, cada vez com mais barreiras disfarçadas, cada vez o salto para a descoberta das decisões a tomar ao longo da vida tem de ser maior. Cada vez é mais dificil não só de encontrar esse momento delicioso de identificação, satisfação, união e tranquilidade, de como permanecer lá - seja a nivel emocional, profissional...

Têm por mania dizer-me que eu não consigo parar, que estou sempre a alterar as coisas, que não dou tempo (muito embora, ultimamente, o meu combustivel esteja a fazer-me funcionar apenas a 50% - uma espécie de crise de energia diria eu),... admito que seja verdade. Não é uma questão de odiar a rotina, mas de não saber viver com ela, sempre foi assim. Então, quase todos os dias me obrigo a tomar decisões e a repensar, exercitar a memória e o corpo, procurar os momentos de identificação, satisfação, união e tranquilidade e sim aí ficar. Interactividade real com aquilo que sou e dou, ligar os pontos que ainda assim não existem, mas percorrê-los sob minha decisão pessoal e única e obter aquilo que pretendo. Quando acredito não questiono avanço e faço, se não conseguir, pelo menos tentei...